Artigos de Psicanálise, ou não.
Vives na força do seu braço ou sob o esforço de outrem?

Olá, que bom ver você aqui! Vamos conversar, trocar uma ideias?
Bem, como já deixei claro, meu objetivo aqui é falar sobre o sofrimento humano e como um analista pode ajudar no processo de "solução dos problemas" - se é que realmente exista uma solução ou até mesmo um problema (e segue a primeira provocação hehehe).
Para você o que seria um sofrimento ou mesmo qual seria o seu problema? Todos tem um, pelo menos há quem diga. Mas a maior questão sobre sofrimentos e problemas é o quanto eles atravessam a nossa vida de maneira a nos prejudicar, digo, paralisar - nos fazer parar de viver. Entenda: pessoas com depressão tendem a "perder o melhor da vida" enquanto mantém as cortinas do quarto fechadas; pessoas acometidas de uma subia tristeza podem deixar de perceber uma oportunidade a sua frente, porque querem "curtir" seu momento a sós. Talvez você esteja pensando: mas a vida é isso um ciclo de alegrias e tristezas, e eu concordo com você. Mas a pergunta é: até que ponto essa tristeza ou alegria estão atrapalhando a sua vida, ou o transcorrer dela?
Estou neste mundo há mais de meio século e, acreditem, tal qual Raul Seixas tenho a impressão de ter nascido há dez mil anos atrás e ter visto muitas mudanças no mundo - mas isso é mera observação especulativa da minha parte. O que percebo claramente é que o que antes era tido como comum, ou normal, hoje não é mais: meu vizinho sempre cortava os galhos da árvore do seu quintal e seus filhos punham visgo em arames para pegar passarinhos. Hoje isso não pode mais! Esse mesmo vizinho saía para trabalhar às 5h da manhã e deixava sua mulher em casa cuidando dos filhos, mas hoje isso praticamente não pode mais, porque o correto é a mulher também trabalhar, se sentir útil, produzir e sair de casa como seu marido, mesmo que isso signifique terceirizar a educação dos filhos a uma secretária - palavra gentil a quem antigamente era chamada de empregada.
Conheço mulheres que sofrem de angústia quando ficam em casa e se veem em meio as atividades do lar, da mesma forma como conheço homens que sofrem da mesma angústia, mas quando se veem obrigados a sair de casa para trabalhar e garantir o sustento da família - e acredite, ambos tem bons argumentos para justificar o porque saem e o porque ficam. Mas o que mudou? Porque o estilo de vida de nosso pais e avós não mais se encaixam em nossos dias? Será algum tipo de evolução do sofrimento que nos tem feito mudar ao longo dos anos?
Eu sei que a essa altura você está pensando mil coisas e sua cabeça dando um monte de nó, afinal de contas o que tenho apresentado até agora são provocações, perguntas em busca de respostas comparando épocas e gerações distintas. Para quem vive no mundo digital, na palma da mão, não sabe o que é precisar ir a biblioteca para pesquisar um assunto e transcrever o que encontrou para um caderno a fim de apresentar no trabalho escolar; ler dezenas de livros para se chegar a uma conclusão é o mesmo que desejara morte do bezerro! Basta dar um Google e encontrar todas as definições que se precisa, assim como o resumo ou resenha dos livros que jamais serão lidos.
A forma como vivemos tem influência sobre nossos sentimentos (tristeza, angústia, solidão) , assim como a forma como fomos assistidos por nossos pais também impactam nossa vida. Conheço a história de um homem que durante o set analítico relatou uma lembrança, uma experiência vivida em sua infância com seu pai. Ele disse:
"Meu irmão e eu fomos desafiados a ler um livro na estante, um livro de história do Brasil, por meu pai que deixou de nos sabatinar no fim de semana próximo. Meu irmão e eu nos revezávamos na leitura do livro. Eu, detestando aquela tarefa, lia página após página sem nada reter - era muito chato tudo aquilo, mas meu irmão devorara e demonstrava prazer no que estava lendo. Chegado o dia da sabatina eu mal consegui responder uma ou duas perguntas de meu pai, enquanto o meu irmão detinha todas as respostas na ponta da língua. Ao ver meu pai colocando meu irmão no colo, acariciando sua cabeça e elogiando seu resultado ao passo que me fez dar um passo a trás desaprovando meu desinteresse uma tristeza profunda me invadiu. Fugi para a cozinhe, comecei a chorar e prometi que iria provar que era tão capaz quanto meu irmão, mas não antes de reprovar pelo menos duas vezes na escola - afinal eu precisava dizer ao meu pai que ele tinha razão. Os anos se passaram, mas nada do que conquistava era suficiente para provar ao meu pai que eu era tão capaz quanto meu irmão. Cresci mais que todos, conquistei mais que qualquer um da minha família, mas o sentimento de desvalor gritava dentro de mim."
... continua...
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