Artigos de Psicanálise, ou não.
Por que usamos máscaras?

Olá, que bom ver você aqui!
Fico feliz que tenha voltado. Vamos conversar, trocar umas ideias?
Recentemente republiquei em meu Instagram uma postagem da @psicanaliseclinicaoficial falando sobre o único privilégio do homem sobre todos os outros animais: a mentira.
E a reflexão de hoje gira em torno disso: por que mentimos? Por que usamos máscaras para família, amigos… na faculdade, no trabalho… por quê? Ser transparente, sincero e falar a verdade, demonstrar quem realmente nós somos, não seria melhor e mais justo para todos?
Pois é, na realidade nós não conseguimos lidar bem com a verdade, até queremos que nos digam a verdade, mas não a suportamos ouvir e dizer - em alguns casos. E como meio de manter as relações, de nos proteger de outrem ou de nossas próprias culpas, mentimos. Quem, ao receber um convite de um familiar, por exemplo, já teve a vontade de dizer: "não, não vou", mas para não ficar mal com a família acabou cedendo e indo a um lugar que não gosta, estando com pessoas que não curte, compartilhando um tempo que preferiria utilizar de outra forma? Mentimos e o fazemos por um bom motivo, alguns afirmam.
Mas este “privilégio” de nossa raça contém armadilhas. As mesmas mentiras que nos protegem podem nos aprisionar em uma ilusão, projeção da realidade que gostaríamos de vivenciar, mas que no fundo sabemos que não é possível, não é real, não é a verdade - ou porque não podemos, ou porque não queremos... uma sentença questionável.
Mentimos para sermos aceitos, mentimos para nos suportar, mentimos para nos sentirmos inclusos num mundo de ilusão “facebookana”… mentimos para nos sentirmos bem, mas sem perceber que viver, falar, declarar e confessar a mentira como verdade aos poucos nos lança num calabouço - que pode virar doença.
Mas está tudo bem, afinal todos nós mentimos (ouço um silêncio ensurdecedor)! Mesmo aqueles que afirmam não mentir acabam excluindo-se como interlocutor esquecendo que entre o acordar e o recolher-se um seus aposentos, pelo menos uma vez, mentiram para si mesmos. Será?
Júlia, 34 anos, contava para as amigas do trabalho e do clube que frequentava como eram seus fins de semana com o marido: aventuras emocionantes, lugares fascinantes, digno das páginas do romance “CINQUENTA TONS DE LIBERDADE”. Ela era admirada, e também invejada, por suas amigas que ficavam se perguntando: “onde foi que eu errei, onde estava que não achei ele primeiro?” Mas sem que todos soubessem, a cada manhã, quando precisava de alguma coisa de seu marido, Júlia deixava uma carta sobre seus pertences antes dele ir para o trabalho. Quando definitivamente ele saiu de casa, Júlia desabou, acabou a farsa da família feliz, da mulher realizada e completa… caiu deprimida sobre a cama envergonhada, escondendo-se de tudo e de todos.
A mentira pode tornar-se disfuncional impedindo uma pessoa de viver de forma mentalmente saudável. Acreditar na própria mentira a ponto de praticamente viver uma vida dupla, pode configurar um quatro patológico, quando a pseudolalia se instala.
Os motivos que levam alguém a mentir compulsivamente? Geralmente esse comportamento tem ligações com fatores psicoemocionais: inseguranças, medos, frustrações... Em todo caso é sempre bom o individuo perceber-se e constatando que seu comportamento compulsivo, seja por um traço marcante da personalidade ou transtorno procurar um especialista para ajudá-lo a "voltar para os trilhos". Afinal, a mentira nunca é boa e pode tornar-se extremamente prejudicial tanto para quem mente, como para quem com ele convive.
Bem, como já deixei claro, meu objetivo aqui é falar sobre o sofrimento humano e como um analista pode ajudar no processo de "solução dos problemas" - se é que realmente exista uma solução ou até mesmo um problema (e segue a primeira provocação hehehe).
Até nosso próximo encontro.
:^)
Ênio Favacho, psicanalista.
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